Rito de passagem (1): do hábito para os costumes – primeira dimensão
*por Edson Edgard Batista
Na nossa última comunicação propusemos reflexões sobre como nossos hábitos – comportamentos individuais – à medida que vão ao encontro da comunidade, quais as transformações podemos observar; o que os nossos olhos – e todos os nossos sentidos – são capazes de captar?
A este fenômeno – socialização dos comportamentos individuais – é possível denominar como a existência de um rito de passagem. O que até então consideramos um hábito faz surgir outro cenário, uma vez que vão ao alcance de um número maior de pessoas, passando a integrar uma realidade de maior amplitude.
Em outras palavras: atitudes próprias (nossas individualidades) uma vez posta aos cenários comunitários, acabam perdendo suas particularidades e, a partir daí – sem que nos demos conta – passam a integrar um patrimônio de comportamentos inserido em um conjunto maior de pessoas e essas – ainda com uma percepção contida – perdem seus aspectos próprios, cedendo aos interesses de uma “comunidade de indivíduos”.
Portando, no condomínio, na rua(avenida), no bairro, na região da cidade, nela própria, na região em que ela está localizada, na divisão do país em que ela se encontra, no continente……em fim; os corpos de indivíduos – considerados em suas particularidades – passam a integrar uma “massa” heterogênea de comportamentos.
É possível raciocinar, portanto, que à medida que nossos hábitos vão ao encontro da comunidade, saindo portando apenas de nós próprios, vimos a considerar que nossos comportamentos passam a integrar um campo de maior amplitude, formando um conglomerado humano; estamos aqui diante de um fenômeno que podemos denominar “surgimento dos costumes”.
A costumes, seria possível conceber – vamos evitar aqui a compreensão dos léxicos – para oferecer mais fluidez e liberdade intelectual, uma realidade que emerge a partir da observância de um somatório de hábitos.
Mas a este “somatório”, não podemos compreender como uma simples operação aritmética. Seria por demais simplista tal raciocínio.
A esta suposta e genuína operação aritmética é perfeitamente possível – e até mesmo necessário – que outros componentes se adicionem. Contribuições dos mais variados campos, como a sociologia, a filosofia política, as teorias econômicas, dentre outras.
Mas este é um assunto de maior amplitude, que estamos explorando em outras dimensões literárias.
Esses matizes se revelam extremamente instigantes, uma vez que permitem à mais variada das tendências, e legitima que as discussões possam se mostrar as mais ecléticas possíveis.
Eis aqui o nosso caleidoscópio – múltiplo, dinâmico, vivaz – disposto e aberto a uma infinitude de argumentos.
Você com sua máscara, usando o seu álcool gel, procurando manter a distância do seu semelhante, acionando sua maçaneta ou o elevador do seu condomínio: hábitos.
Você com sua mesma máscara, com o seu mesmo álcool gel, com os mesmos cuidados sobre a distância a outras pessoas, acionando a mesma maçaneta ou o mesmo elevador do seu condomínio… mas inserido em um conjunto de comportamentos onde uma quantidade maior de pessoas estão incluídas, acaba proporcionando o surgimento de um rito de passagem: “do hábito para os costumes”.
Denominamos esta dinâmica como “rito de passagem número (1) ou de primeira dimensão”. Mas se temos o (1) certamente admitimos – ao menos intuitivamente – a possibilidade do número (2), ou até mais outros números.
A continuidade da caminhada dos “ritos de passagens” vamos abordar na nossa próxima comunicação, deixando a cargo do leitor a caça ao enigma.
Hoje ficamos por aqui.