Rito de passagem (2): dos costumes para as tradições – segunda dimensão
Falamos nesses dias sobre o primeiro rito de passagem: “do hábito para os costumes”; propusemos ao leitor sobre refletir para onde iríamos para transpor ao segundo rito.
Entre pesquisas – idas e vindas – leituras, escritas, reflexões – e lá se vão alguns anos – elaboramos o segundo rito de passagem como sendo a transposição “dos costumes para as tradições”.
A escolha pelas observações dos comportamentos sobre o momento de pandemia da CV-19 vai se manter, pela pertinência e oportunidade deste terrível momento com a qual nós – enquanto humanidade – estamos enfrentando. Mas o campo de observações é de uma vastidão sem fim, seja qual for o parâmetro a considerar.
Pois bem, retomando o raciocínio: à medida que nossos comportamentos individuais (hábitos) vão se tornando repetitivos e passam a alcançar os comportamentos de outras pessoas, integrando, portanto, a um campo maior de indivíduos
Neste estágio nos deparamos com um entre comunitário, emergente de múltiplos ambientes coletivos onde “nossos hábitos” vão ao encontro e se somam a “hábitos de outras pessoas” – e desta estricção – vimos surgir os “costumes”.
A este fenômeno chamamos do “primeiro rito de passagem”
Ora, por uma questão de hermenêutica, se temos um “primeiro”, logo concebemos a possibilidade de um “segundo” ou mais.
O que viria após os “costumes”? Eis nosso desafio aqui.
Vejamos: os “costumes” já se encontram inseridos em um ambiente coletivo. Mas vamos considerar que esses “comportamentos coletivos” passem a se repetir de maneira tão dinâmica que “outros coletivos” possam ser inseridos, indo assim ao encontro de algo dotado de múltiplas “conexões coletivas”, a formar uma “comunidade” maior.
Proporcionar que as conexões dos “coletivos” possam constituir outras realidades – de maior proporção no tempo e no espaço – podemos aqui denominar o surgimento de “tradições”.
É possível então conceber que as “tradições” representam o processo de maturação dos “costumes”, passando a constituir uma espécie de “consolidação” de fenômenos coletivos, transformando-se – tal qual uma metamorfose – em atributos comunitários, em uma escala de sucessão que leva em conta o tempo e o espaço.
Em uma síntese: tradições representam os costumes consolidados, em meio a conexões profundas, entrementes a relações de larga escala.
Vamos considerar duas escalas imprescindíveis a observar as tradições: o tempo e o espaço.
TEMPO: não são alguns dias, semanas e muitas vezes até mesmo anos; a maturação se dá à medida que o tempo seja expandido muitas vezes por gerações, até que um universo coletivo se de conta que convivem com comportamentos que estão introjetados em seu quase cotidiano.
ESPAÇO: considerando a pujança geográfica com a qual as tradições possam alcançar, que vão além de uma comunidade que se mantêm em seus comportamentos, passando a um fenômeno de “regionalização” que por vezes não encontram limites até mesmo entre Nações.
Voltando aos nossos exemplos endêmicos: a adoção coletiva de novos “hábitos” higiênicos, à medida que passam a ser adorados por número maior de pessoas, que o fazem em maior frequência – temos os “costumes”. De se notar: a questão transpõe-se de “hábitos” de higiene (comportamentos individuais) para atitudes coletivas, ou seja, adoção e surgimento de “costumes” de “saúde pública”.
Reafirmando: rito de passagem(1) – primeira dimensão.
Mas se na escala do tempo e do espaço esses comportamentos alcançam um corpo coletivo de maior amplitude, que muitas vezes sequer conseguimos divisar, os comportamentos coletivos (costumes – em saúde pública) passam para o campo das questões de “segurança sanitária”, no alcance e passando a integrar nossas “tradições”.
Reafirmando: rito de passagem(2) – segunda dimensão
Continuando nossa jornada, o desafio passa a ser: onde estará o rito de passagem(3) – de terceira dimensão?
Fica aqui a proposta de reflexão, cujo enigma vamos tratar no próximo texto.
Hoje ficamos por aqui.